terça-feira, 8 de julho de 2008

Barroco

Corrosiva e Construtiva. É o mínimo que se pode dizer da ação do tempo. O tempo é o eterno remédio e o eterno destruidor. Não importa a beleza de um monumento ou de uma flor, ela sempre evanescerá e sucumbirá ao destruidor mor. Há um tanto de barroco nisso tudo. Mas se nós pararmos para pensar, o tempo simplesmente age por si só, construindo ou destruindo o que vemos.
Para perceber o que eu quero dizer, basta observar quantos amigos seus continuaram como tal mesmo depois de anos e anos. Lembra daquele colega de colégio para quem você confessou que gostava da menina mais bonita da sala? Onde ele está agora? Onde está aquela menina que fugia de você e de seus colegas e depois sentava pra lanchar junto? Onde está aquele amigo que jogava bola com você nos finais de semana? Poderia aqui citar várias pessoas que sumiram de sua vida, não porque quiseram ou foram mal intencionados, mas porque alguém separou vocês: O Tempo.
Mas o inverso também acontece. Algumas pessoas se juntam com o tempo, mesmo que não fosse realizável tal coisa. Uma das pessoas que hoje em dia têm sido importantes para mim outrora não queria me ver nem pintado de ouro. Hoje em dia, rimos disso. Eu reconheço que ja fui um cara muito prepotente e que isso acabou me afastando dela naquela época. É fascinante como as coisas fluem e o tempo trata de corrigir ou destruir as coisas.
O tempo mostra a verdadeira face de todas as coisas. O que era um sonho, torna-se monótono. Talvez o que era monótono se torne um sonho. O que era belo, se torna feio. O que era calmo se torna extremo. O que era interno se torna externo e todos os sentimentos se mostram, verdadeiros. A face escondida por trás da máscara que cai nada mais representa além do que não lhe seria permitido ver. E é o tempo que derruba essa máscara, fazendo com que vejamos o que está ao nosso redor. O tempo nos mostra o que é real.
Talvez a destruição das coisas seja sua própria correção. Talvez o que não mereça ou não suporte a existência seja destruído. No caso de relacionamento, certa feita ouvi meu professor de redação do 3º ano falar uma das coisas que ficarão por muito tempo em minha mente. Disse ele, quando perguntado sobre seu relacionamento com a ex-mulher: "Amor é igual a amigo: ou é ou nunca foi". Eu fiquei estarrecido com aquela frase. Com isso ele disse que não se desgosta, por mais que se desgaste, se canse, se perca ou se passe, na verdade nunca houve um gosto se ele se perde. Tanto vale com o amor como com a amizade. Portanto, uma coisa que não é, nunca foi. Se uma pessoa não está presente como você gostaria, primeiro tente imaginar se não é fruto de sua mente. Se não for, se a pessoa se afasta por vontade própria, é porque aquela relação não era proveitosa. É como se no fim das contas, a pessoa chegou, mudou o que tinha de mudar em você e sumiu. Retomo aquela frase de Brandão, "O que vem fácil, vai fácil".
Mas as vezes as coisas que são destruídas pelo tempo não mereciam tal fim. Ou talvez estejamos apegados demais ao que se foi. Não falo só de pessoas mas também sobre as coisas. Um homem me assaltou, certa feita, e levou meu MP4. Eu adorava aquele aparelho eletrônico que me dava uma alívio musical imediato. Mas, em função da minha vida, desapeguei-me dele e o cedi. Talvez eu não merecesse ou talvez o homem não merecesse o aparelho. Mas ele se foi, não pela ação do tempo, mas por uma ação criminosa. O tempo não agiu, mas ele foi antecipado. Assim como um remédio que é tomado sem estar doente, ele pode causar danos à saúde.
O tempo é então o grande remédio. As coisas se cansam, passam ou se quebram por um motivo. Ele destrói, ele corrói, mas é o mínimo que ele pode fazer por você. Mostrar a verdade. Quebrar as máscaras que escondem o rosto, belo ou horrendo por trás delas. As coisas nem sempre são como elas eram no início, mas temos que observar que as vezes elas melhoram, que na verdade o que víamos era apenas uma fração do todo e que o tempo é que nos faz ver o que está oculto. O tempo age por si só, moldando o que não podemos alcançar: a verdade. Não podemos evitar a sua ação e também não devemos. Há um tanto de barroco nisso tudo.

2 comentários:

HBMS disse...

*-*
quando li o texto quase que automaticamente lembrei da música A Lista(Oswaldo Montenegro)..


ah só por curiosidade, mas nesse trecho "mas porque alguém separou vocês: O Tempo."
o tempo acaba sendo tratado como uma pessoa, intecional?

o>

Luara Quaresma disse...

O tempo é um deus e um demonio, e me pergunto como uma unica coisa pode ser duas. A beleza e a feiura. Eu tenho medo do tempo. Não por sua falta, mas pelo seu exagero.